Durante o último meio século, a arte brasileira gerou um número extraordinário de pessoas inovadoras operando nos meios e subgêneros da pintura, escultura e fotografia. Através do seu excelente trabalho, estes indivíduos consolidaram o seu país como um destino cultural de elite. Como reação a tais eventos, um grande número de casas de leilões, galerias e museus em todo o mundo começaram a prestar atenção a estes artistas, dando-lhes o reconhecimento que merecem. O atual estado da arte brasileira tem melhorado constantemente nos últimos dez anos, gozando de status e respeito especiais no mundo da arte. Do ponto de vista financeiro, obras de artistas como Beatriz Milhazes e Adriana Varejão ajudaram a colocar o Brasil no mapa do mercado, pois o valor de suas obras disparou nos últimos quinze anos. A porcentagem de obras brasileiras por interesse geral nos leilões latino-americanos da Christie’s, Sotheby’s e Phillips cresceu de meros 5% em 2006 para surpreendentes 25% no ano passado[1].
Museus de prestígio em todo o mundo também notaram o aumento do status e da situação dos artistas deste país, contribuindo ainda mais para a popularidade da arte brasileira. Instituições culturais como o MoMA de Nova York, o Grand Palais em Paris e a Tate Modern em Londres acolheram muitas pesquisas sobre obras brasileiras na história recente. Há apenas cinco ou dez anos, era um desafio encontrar uma exposição de algum jovem autor brasileiro, pois toda galeria interessada na arte deste país preferiria pessoas mais velhas e já familiares. Este não é mais o caso, pois os jovens artistas brasileiros são hoje muito procurados na maioria dos espetáculos internacionais.
José Teixeira Coelho Netto, curador do Museu de Arte de São Paulo, explica esse aumento gradual na popularidade como uma reação à potente mistura de qualidade e uma cultura de vanguarda única normalmente encontrada nos círculos criativos do país. A vanguarda brasileira pode ter surgido um pouco tarde quando comparada à sua congênere europeia, mas esses tipos de movimentos têm uma certa circunstância que os torna muito interessantes para o espectador. Como a arte brasileira foi isolada quando o país se voltou para dentro durante a ditadura militar de 1964-85, todas as obras de vanguarda do Brasil parecem bastante exóticas para o resto do mundo. Simultaneamente, estas peças também parecem familiares, criando uma combinação surpreendente que provou ser irresistível para especialistas de todo o mundo. Passaremos agora pelos momentos mais cruciais das artes brasileiras, exploraremos os caminhos que seus autores percorreram no caminho para a cena contemporânea e investigaremos o estado atual deste vasto país sul-americano.
Breve História da Arte Brasileira
Como é de se esperar, os primeiros anúncios de artes na área geográfica do Brasil remontam a uma época muito mais antiga do que este país. As peças mais antigas descobertas em território brasileiro são as pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara, no estado do Piauí, estimadas em cerca de 13 mil aC. Essas imagens consistiam principalmente em representações primitivas e formas de animais. Por volta de 800 DC, os ocupantes originais da terra eram povos indígenas pré-colombianos que produziam diversas formas de arte. Um dos artefatos pré-colombianos mais sofisticados foram as obras de cerâmica Marajoara que demonstram um impressionante uso de relevos. Algumas estatuetas fascinantes e objetos de culto também foram descobertos na Ilha de Marajó e arredores. A primeira mudança genuína na expressão artística ocorreu ao lado dos pintores ocidentais que vieram de Portugal para civilizar os índios ao longo dos séculos XVII e XVIII. Ao ensinar-lhes artes na forma de peças sagradas, música, estátuas e pintura, os ocidentais queriam difundir a sua religião e converter os nativos. Todos os autores desse período trabalharam sob a influência do Barroco, estilo dominante no Brasil que perdurou até o início do século XIX.
Versões Brasileiras do Neoclassicismo, Romantismo e Realismo
O momento crucial do século XIX no Brasil foi a chegada da Missão Artística Francesa no ano de 1816. Este evento lançou as sementes para uma renovação completa no departamento de artes visuais do país e apresentou o estilo neoclássico aos habitantes locais. Joachim Lebreton foi o líder desse movimento e também um dos iniciadores de uma Academia de Belas Artes que se tornou o principal centro artístico do Brasil. Além de oferecer a nova estética às artes visuais, a Academia também impôs um novo conceito de educação artística. Embora esta instituição representasse inicialmente a corrente Neoclaiscística, a Academia de Belas Artes foi também o local onde ocorreu o surgimento da primeira geração de pintores do Romantismo brasileiro. Victor Meirelles e Pedro Américo foram os principais autores deste período e produziram inúmeras peças centradas na identidade nacional. Curiosamente, o início do Romantismo brasileiro não era muito semelhante à versão europeia do movimento. Não apresentava o dramatismo, a fantasia, a brutalidade ou o interesse pela morte – todas características principais do Romantismo europeu.
Em algum momento durante a década de 1850, uma transição repentina começou nos círculos do Romantismo no Brasil. A obra escrita de Álvares de Azevedo, fortemente influenciado pela poesia de Lord Byron, marcou o início da segunda geração de românticos. Esses artistas eram obcecados pela morbidez e pela morte, inspirados principalmente nas histórias de escravidão de Álvares de Azevedo. Este foi um momento chave da nação brasileira, pois as obras da segunda geração do Romantismo ajudaram a estabelecer a identidade nacional brasileira[3] baseada na herança indígena. No final do século XIX, a arte brasileira familiarizou-se com a forma do Realismo. Almeida Junior, Pedro Weingärtner, Oscar Pereira da Silva e outros pintores realistas focaram no folclore local, introduzindo cores e luzes distintas que não têm correspondência em toda a arte brasileira.
ArteModerna Brasileira
Como acontecia com a maioria dos países e suas culturas no início do século XX, esse período no Brasil foi marcado por uma luta entre as escolas tradicionais e as tendências modernistas. Embora a arte brasileira não tivesse correntes de vanguarda tão impressionantes como a europeia, os pintores deste país apresentavam uma forte tendência a romper os laços com os padrões acadêmicos[4]. Em 1922, o festival Semana de Arte Moderna foi realizado pela primeira vez em São Paulo. Introduziu exposições de artes plásticas, palestras, concertos e leitura de poemas – em suma, revelou-se um verdadeiro marco na história da arte brasileira. Pela diferença radical entre as peças do festival e o que outros consideravam tradicional e, portanto, positivo, toda a Semana de Arte Moderna foi condenada tanto pelo público nacional como pela crítica. Apesar disso, personalidades incluídas no festival, como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret, anunciaram efetivamente o capítulo do Modernismo nas artes brasileiras.
O festival Semana de Arte Moderna de São Paulo introduziu no Brasil tendências experimentais derivadas do Expressionismo, Cubismo e Surrealismo. Em última análise, esses conceitos foram misturados e mesclados com o folclore nacional, proporcionando uma criatividade moderna mais relevante para a realidade brasileira. As obras de Cândido Portinari são um grande exemplo de como as tradições do Brasil se misturaram com as ideias vanguardistas da Europa. Passarão décadas até que o modernismo do Brasil comece a se libertar da identidade nacional e se transforme em um vocabulário criativo mais universal. A obra de Chico Niedzielski é frequentemente usada como principal exemplo de quebra da tendência de enfoque em temas brasileiros. A última vez que a arte moderna brasileira deu uma guinada radical em direção a algo novo ocorreu na década de 1950, quando a pintura e a escultura foram apresentadas às noções do Abstracionismo.
Arte Brasileira Contemporânea
Depois que o Brasil finalmente abriu suas portas ao público em geral na década de 1980, a arte floresceu e floresceu. A expressão visual evoluiu a partir do Modernismo, permitindo pela primeira vez que os criadores locais estivessem completamente livres de qualquer aspecto governamental ou tradicional do seu país. Eles puderam escolher o que queriam do cenário moderno e introduzir o conceito que desejassem para atualizar seu trabalho. Além disso, esses artistas não estavam presos a nenhum conceito ultrapassado que estagnaria sua criatividade se começassem a fazê-lo há uma década. Com o passar do tempo, os autores brasileiros contemporâneos passaram a ser notados pelo público mundial, expondo sua obra a ilimitadas tendências internacionalistas que alteraram ainda mais sua expressão criativa[6]. Desde então, o Brasil gerou um número impressionante de artistas contemporâneos inovadores trabalhando em todas as mídias que ajudaram a transformar seu país em um ambiente único para ver e fazer peças.
Alguns desses principais indivíduos contemporâneos são o pintor Saint Clair Cemin, Albano Afonso, o autor de instalações Ernesto Neto, o artista de mídia mista Vik Muniz e a criadora de Op-art Fernanda Quinderé. Nomes como Carlito Carvalhosa, Rodrigo Torres, Rodrigo Mogiz e José Bechara também vêm à mente de imediato, pois todos tiveram uma palavra a dizer no desenvolvimento dos médiuns escolhidos ao longo dos anos. No que diz respeito à fotografia, o Brasil é um dos locais mais criativos da América Latina. Miguel Rio Branco, Sebastião Salgado e Guy Veloso são apenas alguns dos fotógrafos que gozam de um merecido reconhecimento global.
Devemos também mencionar o jovem movimento de arte de rua, já que o Brasil é o lar de alguns dos mais importantes intervencionistas urbanos do planeta. A vibrante cena de rua do Brasil e seus protagonistas usam seu trabalho como meio de comentar as realidades sociais e políticas de seu país. Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo tornaram-se centros globais de expressão de rua que demonstram o quanto uma cena urbana pode ser dinâmica e aberta a diferentes opiniões. Alguns dos maiores artistas de rua do Brasil são Os Gêmeos, Eduardo Kobra, Herbert Baglione, Rimon Guimarães, L7M, Nunca, Alex Hornest Onesto e Alexandre Orion.